Capitulo IV - Desvendar,Redobrar
O que seria importante para Mateus na sua vida? Perguntava-se constantemente como se disso dependesse sua familiaridade consigo mesmo. Respondia sempre afobado e abafado como que com medo da resposta ser mais alta do que a sua vontade de não saber. Érica observava de longe, olhos firmados numa eternidade que sabia bem Mateus não poderia ser infinita. Resta-nos uma saída, era o que repetia em voz alta. Uma saída que é aquela que temia mais entre todas: amar.
Érica se preparava para pegar mais uma bebida no balcão do bar com Rosa, bartender “senior” dentro daquele clube. Mateus a repercutir de longe, olhos inconstantes que dançavam entre pickup, irmã e corpos em movimentos quase intensos demais para serem realizáveis. Horas corriam como se correm desesperados participantes de maratonas que Érica nunca compreendia e um ritmo irregular como irregular eram os desejos daquele que ela chamava de amor sem saber muito bem o que aquilo poderia vir a querer dizer.
Como explicar para ela? Era a dúvida que então trazia consigo naquela noite. Como explorar o amor que não seja o nosso e respingar sobre suas mãos e ombros a certeza de que isso não significaria nos separarmos por nada? Ela aparecia, copo na mão, sorriso torto, dentes quase a mostra.
“Aqui, Matty.”
“Obrigado, Sis...”
Érica mantinha uma aura de quem está perdida em algum vão, mas Mateus sabia que não era bem assim, enquanto aquela que tinha os mesmos olhos, os mesmos fios grossos e pretos presos ao seu couro cabeludo patinava, ele a mantinha sob seu olhar quase paterno a espiar, espiando espiando atentamente... Ele a conhecia como conhecia seus pudores e desejos, como conhecia seus lugares mais escuros, seus pedidos mais desumanos enquanto Érica pairava santa, resguardada. Ela no fundo queria tê-lo não como aquele que dividiria sua vida desde o momento único que foram concebidos até o fim, mas sim como alguém que se é encontrado na rua, no cinema, no palco de um teatro abandonado no centro da cidade... Ela queria encontra-lo e assim te-lo, mas a sorte escreve histórias incabíveis. Os dois nasceram para serem unidos, sim, mas não como queriam.
“Sis...”
“Sim, Mat?”
“Alcance aquele megafone para mim por favor...”
Em pouco menos de dois segundos o instrumento estava em suas mãos.
Em alguns minutos a noite acabaria pra quem dançava e começaria de fato para Mateus e Érica.
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